Catarina Barbosa

Um blog dedicado a compartilhar vivências e reflexões sobre luto, sexualidade, gênero e raça, explorando as diversas camadas que moldam nossa existência com sensibilidade e profundidade.

Pluralidade negra

Em tempos de polarização, classificar pessoas em “caixinhas” tornou-se uma prática comum, especialmente nas redes sociais. Essas plataformas utilizam algoritmos para agrupar preferências e características, oferecendo conteúdos que mantêm os usuários engajados e maximizam seus lucros. No entanto, essa categorização simplificada apaga nuances e ignora a diversidade dentro da comunidade negra.

Grupo de jovens negros levantando os punhos em um gesto de união e protesto, com a bandeira do Brasil ao fundo, simbolizando a luta por igualdade e justiça social.

O pertencimento e a identidade negra

Buscar pertencimento em grupos com interesses comuns — como preferências culturais, musicais ou experiências compartilhadas — é algo natural.

No entanto, quando esse pertencimento se baseia na cor da pele, ele reflete algo muito mais profundo: uma identidade forjada pela história, pelas lutas coletivas e pelas experiências de exclusão que marcam a trajetória da população negra no Brasil.

Essa construção identitária carrega séculos de resistência e a busca por igualdade, mesmo diante de apagamentos e violências estruturais. Ainda assim, essa identidade coletiva não significa uniformidade.

A diversidade dentro da população negra

No Brasil, aproximadamente 56% da população se autodeclara preta ou parda, totalizando cerca de 119 milhões de pessoas. Dentro desse grupo, há múltiplas realidades, visões políticas e contextos econômicos. Entretanto, muitas dessas pessoas compartilham experiências comuns de discriminação racial, fruto do racismo estrutural e do preconceito fenotípico presentes na sociedade.

Mapa do Brasil mostrando a cor ou raça predominante por municípios de acordo com o Censo 2022, destacando os percentuais de cada grupo racial.

A cobrança por uma postura única

Um exemplo dessa expectativa de homogeneidade ocorre quando figuras negras ganham visibilidade midiática por ações controversas. Episódios como a agressão de Will Smith a Chris Rock no Oscar ou as opiniões de Jojo Todynho, que por vezes geram reações polarizadas, ilustram essa dinâmica.

Há uma expectativa de que toda a comunidade negra se posicione — seja para defender, criticar ou justificar essas atitudes. Esse duplo padrão se torna evidente quando comparamos com a branquitude, que não é cobrada coletivamente por atos individuais. Essa exigência impõe um peso injusto às pessoas negras, ignorando sua pluralidade e autonomia.

O mito da democracia racial e a invisibilização

O mito da democracia racial, que nega a existência do racismo no Brasil, reforça essa invisibilização. Muitas vezes, espera-se que pessoas negras tenham uma postura única ou carreguem a responsabilidade de responder por qualquer ato de seus pares que fuja das expectativas sociais.

Imagem de protesto com pessoas segurando cartazes com slogans como 'Abaixo o racismo!' e 'Denunciamos o namoro do Brasil com a ditadura', enfatizando a luta contra o racismo e a opressão.

Essa cobrança ignora a individualidade e reduz a complexidade da experiência negra, reforçando estereótipos e apagando narrativas diversas.

A importância de reconhecer a pluralidade negra

Várias pessoas com diferentes tons de pele, representando diversidade racial, com cores Pantone identificadas para cada tonalidade. Ideal para estudos sobre etnias e diversidade.

Pessoas pretas, assim como qualquer outro ser humano, possuem histórias e vivências únicas. Embora existam pontos em comum que conectam trajetórias, cada indivíduo tem sua própria visão de mundo.

Reconhecer essa diversidade é essencial para evitar narrativas reducionistas e fortalecer a luta coletiva, enriquecendo-a com diferentes perspectivas. Como afirma Antônio da Costa Ciampa, a identidade é um processo dinâmico, moldado por relações sociais e pelo contexto histórico.

Ou seja, a identidade negra não é fixa, mas sim histórica, política e em constante transformação.

Pode parecer óbvio, mas em tempos de narrativas simplificadas, o óbvio precisa ser reafirmado.


Referências: